Reflexão, sugestão de pauta
para os programas esportivos. Imaginem uma pessoa com uma faixa etária próxima
aos 70 anos. Essa pessoa em 1954, ano da conquista do título paulista do IV
CENTENARIO, que na verdade aconteceu em fevereiro de 1955, viu ou ouviu o
Corinthians ser campeão com 13 anos. Acho que esse raciocínio vale até para
quem tinha uns 10 anos. Afinal com 10 anos já nos lembramos de várias coisas.
Essas pessoas passaram 22
anos e alguns meses sem ver o Corinthians conquistar outro Paulista.
Essa gente foi gozada,
ouviu todo o tipo de piada, viu o clube ser administrado por uma ditadura, viu
essa ditadura cair, viu cair também um tabu em 1968, contra o Santos. Mas
título, depois daquele de 1954, demorou pra ver de novo.
Mas essa gente não
desistiu, estimulada por parentes e amigos mais velhos que provavelmente já não
estão entre nós --- pensando pelo lado da expectativa de vida do brasileiro
---, trouxe consigo e passou à frente para amigos, filhos e netos o que é ser
FIEL.
E, depois de longo tempo
essa gente, aqueles que em 1954 ou 1955 tinha entre 10 e 13 anos e viu ou ouviu
o Corinthians ser O Campeão dos Campeões, voltou a vê-lo novamente em 13 de
outubro de 1977.
E que campeonato!!! Que comemoração!!!
Que exemplo de fidelidade, alegria e participação. Estádios lotados! Ou melhor,
superlotados. O Morumbi chegou a receber quase 140 mil pessoas no segundo jogo
da decisão de 77. A essa altura essa gente já estava na faixa dos 30 anos de
idade, um pouco mais até. Quase chegando à metade do seu ciclo individual
levando em conta a expectativa média de vida do brasileiro.
Nossa quanto tempo entre um
título e outro. Vale lembrar que um pouco antes, em 1976, essa gente foi
protagonista de um marco no futebol brasileiro invadindo o Maracanã para ver o
Corinthians numa semifinal do campeonato nacional contra o Fluminense. E óbvio,
mais uma vez ela, a torcida, a FIEL, foi preponderante e ajudou o time a seguir
até a final da competição. Foi nos pênaltis, mas vencemos a máquina tricolor na
sua casa! Saímos atrás e um beijinho doce dado a todos por Ruço nos deu o empate
que levou a decisão para os tiros livres da marca de pênalti. Zé Maria foi quem
bateu o último e sacramentou a nossa classificação. Esse fato ainda hoje é
lembrado por quem lá esteve ou não. Virou livro e certamente vai virar filme.
Documentário com certeza, pois eu já vi.
To falando de uma gente que
sequer sei o rosto, não me vem à mente ninguém nesse instante. Mas lembrem-se
estou falando daqueles que em 1954 e 1955 tinham entre 10 e 13 anos de idade.
Enfim, aos trinta e poucos
voltaram a ver o Corinthians campeão Paulista de 1977.
No ano seguinte, logo no
primeiro turno do Paulista, uma nova conquista. Vencemos o Santos! E essa gente
mostrou sua criatividade e o seu deboche para com aqueles que durante anos e
anos tentaram desestabiliza-los. Essa gente, logo após a conquista desse
primeiro turno já mandou fazer faixas e adesivos que foram colados nos vidros
dos fuscas, opalas, Mavericks e outros modelos de veículos da época, como a Kombi,
por exemplo: ESTOU DE SACO CHEIO DE SER CAMPEÃO!
No final não vencemos a
competição, ficamos apenas com o primeiro turno, mas em 1979, contra a mesma
Ponte de 1977 voltamos a levar o Paulista. E os adesivos e faixas continuaram
colados nos vidros dos automóveis: ESTOU COM O SACO CHEIO DE SER CAMPEÃO.
Vale lembrar que nesse
período, que se iniciou em 1954, ou se preferirem em 1955, afinal o Paulista de
1954 foi decidido em 1955, mesmo diante de imenso jejum a FIEL já dizia:
CAMPEÃO OU NÃO ÉS MINHA PAIXÃO, uma espécie do NUNCA VOU TE ABANDONAR de hoje
em dia.
Bem, de lá pra cá, essa
gente dos 10 a 13 anos da década de 50, catequizou como já falei acima e passou
a comemorar, conquistas e mais conquistas. Antes, outro detalhe: em 1979,
também numa partida contra o Santos deu mostra de sua cidadania e estampou a
faixa: ANISTIA, AMPLA, GERAL E IRRESTRITA, contra a ditadura, não mais do
clube, mas do país. Claro isso teve consequências, mas não pra falar aqui
agora.
Os paulistas adormecidos
entre 1955 e 1977, começaram a chegar aos montes. Logo após 1979, vieram 1982,
1983 --- a DEMOCRACIA CORINTHIANA --- e só não veio o quarto tricampeonato
paulista porque o Aragão não marcou um pênalti claro em Zenon na final da
competição de 1984, contra o Santos. Mas em 1988, no ano da centenário da
Abolição, vencemos mais um. Ganhamos do Guarani lá em Campinas, na primeira vez
que uma decisão foi levada para o interior, obra do então presidente da FPF,
José Eduardo Farah, que possuía ligações com o clube adversário. Bem, não teve
importância. Lá na casa dos caras, essa gente que em 1954 e 1955 tinha entre 10
e 13 anos, viu Viola, na prorrogação, marcar de carrinho, após o chute errado
de Wilson Mano. E no time deles tinha o Neto, que no primeiro jogo marcou um gol
de meia bicicleta fazendo um a zero e que depois conseguimos empatar com um gol
de Edson Boaro.
Mas se no Paulista éramos reis,
o brasileiro ainda não tínhamos e era nisso que se apegavam os outros. Mas o
brasileiro não tardou e num 16 de dezembro de 1990, com um gol de Tupãzinho, em
pleno Morumbi, contra os donos da casa, eternos fregueses, ficamos com a taça.
Não só ganhamos o primeiro brasileiro em 90 como em 1991 vencemos o Supercampeonato
Brasileiro, ganhando do Flamengo.
Vai anotando aí pra não
perder a conta. Foram 22 anos sem nada! E de uma hora pra outra o que era
motivo de piada passou a ser o riso. Em 1995 aquela gente que em 1954 e 1955
tinha entre 10 e 13 anos e agora já na faixa etária dos 40 anos viu pela
primeira vez o Corinthians vencer a Copa do Brasil. Ah, mais antes viu também a
conquista de mais um Paulista.
O tempo vai passando
rapidamente, os cabelos brancos vão chegando, mas essa gente não perde mesmo a
paixão pelo Corinthians. E por que deixar de amar algo tão especial, tão
importante e ao mesmo tempo tão insignificante --- é o que pensam os outros. Na
mesma velocidade que os anos se sucedem também as conquistas não param. O
SOFREDOR --- apelido dado pelos adversários durante aqueles 22 anos --- a
grande maioria acredito, pois nossa torcida é formada por todas as classes
sociais, mas os mais humildes são a maioria, já não tinha mais espaço em casa
para guardar faixas de campeão.
Não percam a conta, eu
insisto!
Logo após 1995, voltamos a
ganhar o Paulista em 1997, o Brasileiro em 1998 e o Paulista e o Brasileiro em
1999. E mais Paulistas em 2001 e 2003.
Chega a confundir a mente!
É tanta faixa é tanto título!!! Mas ainda nos cobram um título internacional!
Lógico estamos falando dos
anos 50 pra cá e eles não reconhecem a Pequena Copa do Mundo de Caracas, na
Venezuela. O Corinthians venceu e venceu bem, ganhando dos principais clubes
europeus da época.
E se era um internacional
que nos faltava ele também veio em seguida ao Bi Brasileiro, o terceiro de
nossa história, em 2000, em pleno Maracanã, o mesmo de 1976, também com um
contingente enorme da nossa torcida presente, vencemos o primeiro mundial
oficializado pela FIFA.
A essa altura essa gente
que tinha entre 10 e 13 anos na conquista de 1954 ou de 1955, já chegava aos 46
anos, um pouco mais, um pouco menos.
Os Paulistas não param. Em
2001 mais um. Em 2003 outro. Antes, porém, em 2002, mais uma Copa do Brasil. Em
2005 outro Brasileiro, o quarto da nossa história.
A alegria parecia não ter
fim! Quantas, mas quantas conquistas desde a quebra do tabu em 1977? É título
pra tudo quanto é gosto: Paulistas, Brasileiros, Copas do Brasil e um Mundial.
Mas ainda não tínhamos a tal Libertadores!
Em 2007 acontece um tsunami
em nossa história. A três anos do nosso centenário fomos rebaixados à segunda
divisão do Brasileiro. Uma catástrofe! Voltamos a ser motivo de piadas, o riso
deu lugar à reflexão e essa gente agora já não teria tanto tempo assim para se
recuperar e terminar os seus dias, quem sabe, com a satisfação das conquistas.
Agora essa gente já havia passado a casa dos 50, um pouco mais com certeza.
Mas o tsunami teve reflexo
muito mais nas ações irônicas dos adversários do que propriamente na trajetória
vitoriosa do Corinthians. Surge o NUNCA VOU TE ABANDONAR! E não vamos mesmo!
Não pensamos em virada de
mesa, apenas tão somente na reestruturação interna, a partir de um processo democrático
com eleições e novas propostas.
E aí essa gente, em 12
meses, pode conhecer também um título da série B do Campeonato Brasileiro, o
único de nossa história. A taça que serve de espelho para aqueles que desejam
brincar com a nossa tradição. Tanto os nossos como os que não são nossos, os
adversários.
Com o brio aflorado já em
2009, outra vez um Paulista e agora, pra mostrar que não era brincadeira,
invicto! E já no clima veio o tri da Copa do Brasil, invicta também!
O ano de 2010 foi marcado
pela união dos adversários. O ano da entrega. Palmeiras e São Paulo perderam
jogos para que o Corinthians não conquistasse outro brasileiro. Mas, diz o
ditado: aqui se faz aqui se paga!
Em 2011 o penta brasileiro
chegou e com ele a vaga para a Libertadores. Antes um parênteses, uma
desclassificação na pré-libertadores, perdendo para um tal de Tolima pra
delírio dos contra. Essas pancadas doem, mas não derrubam. Envergamos mas não
quebramos.
Essa gente que tinha 10 ou
13 anos naquela conquista do Paulista do IV Centenário agora já estava chegando
aos 60, ou quase lá. Tinha que ser agora ou correríamos o risco de até não ver
em vida essa conquista.
Mas lá fomos nós com nossa
história debaixo do braço o agouro dos adversários e nossa Fé traduzida em
esperança eterna. Após 14 batalhas, de forma invicta, passando por times que
juntos somavam 10 conquistas dessa competição: Santos (3), Vasco (1) e Boca
Juniors (6). Os argentinos quis o destino enfrentássemos na final, para que tivéssemos
que nos expor na temida La Bombonera. Temida que nada. Chegamos lá daquele
jeito, com nossa torcida em peso. Pena que só nos mandaram quatro mil
ingressos. Começamos perdendo e não desistimos, no grito e na raça, empatamos.
Em 04 de Julho de 2012, no
Pacaembu, aquele mesmo Pacaembu onde o Corinthians em 1955 venceu o Paulista de
1954, diante dos olhos ou dos ouvidos dessa gente que tinha entre 10 e 13 anos
naquela época, o Corinthians sagrou-se CAMPEÃO DA LIBERTADORES! Dois gols
liquidaram os olhos gordos dos adversários e calaram a boca dos Bocas!
Quem poderia a 60 anos
atrás imaginar uma história como essa? Lembre-se que é 60 menos 22, período que
ficamos apenas alimentando a nossa esperança e mostrando ao mundo a nossa fé. Em
exatos 38 anos essa gente que em 1955 tinha entre 10 e 13 anos e agora já como
sexagenários viram inúmeras conquistas de Paulistas, Brasileiros, Copa do
Brasil, um Mundial e a tão sonhada Libertadores!
É mas essa Libertadores nos
colocou em outra situação. O Corinthians teria que disputar o Mundial no Japão.
Mundial, nos moldes daquele do ano 2000. Aquele que vencemos e insistiram dizer
que não valia, pois foi um torneio de verão, embora tivesse Manchester, Real
Madrid, Vasco, Haja Casablanca, Necaxa e Al Nasser (não sei se faltou algum). Inclusive
essa final, transmitida pela Rede Bandeirantes, que registrou o seu maior índice
de audiência de todos os tempos 43 pontos.
Logo foram conhecidos um a
um os participantes desse Mundial de 2012. E enquanto os adversários iam sendo
definidos a Fiel se organizava para outro feito: a INVASÃO INTERNACIONAL. Não
bastasse duas vezes a tomada do Maracanã, em 1976 e em 2000, agora era preciso
atravessar o mundo para poder estar ao lado do time na busca pelo bicampeonato
mundial.
Muitos desdenharam, muitos
ignoraram pacotes de agencias oficializados pelo próprio clube e por conta
própria construíram seus roteiros, conseguiram seus ingressos e quando chegou
dezembro partiram.
Ah! Antes fizeram uma
despedida ao time no aeroporto de Guarulhos, onde estiveram mais de 15 mil
pessoas, entre elas sem dúvida alguém daquela época de 1955, que então tinha
10 ou 13 anos.
O mundial chegou. A torcida
do Corinthians também. E chegou daquele jeito, tomando conta, fazendo a festa,
colorindo de preto e branco a terra do sol nascente.
Esses detalhes não
necessitam tanta descrição afinal estão vivos em nossa memória, foi ontem.
Dois jogos, um pela semifinal
em Toyota e outro pela final em Yokohama. No primeiro ganhamos do Al Alhy e no
último, com o estádio parecendo o Pacaembu e certamente com representantes
dessa gente daquela época de 1955 --- destaque para a Tia Geni, que não é nem
sexagenária, mas “nonagenária”, tendo 91 anos, vencemos e convencemos. O
Chelsea que havia eliminado o Barcelona na Liga dos Campeões e credenciou-se
para esse Mundial, tendo derrotado o Monterrey (México) nas oitavas, não foi
páreo para o time da zona leste, da rua São Jorge sem número e ainda, por
enquanto, sem estádio.
Essa gente que tinha entre
10 e 13 anos em 1955 quando o Corinthians venceu o Paulista de 1954 agora pode
até descansar um pouco e contabilizar nas conversar com os amigos e os
adversários:
Um paulista do IV
CENTENÁRIO
22 ANOS DE JEJUM
Um paulista de 1977,
seguido de mais 10.
Cinco campeonatos
Brasileiros
Um Supercampeonato
Brasileiro
Três Copas do Brasil
Uma Libertadores invicta
Dois Mundiais invictos
E um estádio em construção,
que será a abertura da Copa do Mundo de 2014.
E sabe tudo isso graças a
quem? A essa gente que não se cansa, que nasce, cresce e envelhece e antes de
partir passa o bastão. Essa gente que, excluindo-se aqueles que tinham entre 10
e 13 anos em 1955, soma mais de 30 milhões de loucos! Essa gente que torce e é
cidadã nas ações políticas e na pratica cotidiana de suas comemorações. Essa
gente que um dia escreveu na sua bandeira:
CAMPEÃO
OU NÃO ÉS MINHA PAIXÃO
MAIOR
QUE PELÉ SÓ A FIEL
TO
COM O SACO CHEIO DE SER CAMPEÃO
ANISTIA,
AMPLA GERAL E IRRESTRITA
EU
NUNCA VOU TE ABANDONAR
MINHA
VIDA, MINHA HISTÓRIA, MEU AMOR
AQUI
TEM UM BANDO DE LOUCOS
Ernesto
Teixeira – A voz da Fiel
Torcedor
corinthiano; sócio, intérprete e compositor da Gaviões (8.005); sócio do
Corinthians (305.216); suplente a conselheiro do Corinthians; idealizador do
Comitê de Preservação da Memória Corinthiana (CPMC); colaborador da Rádio
Coringão;
Formado
em Gestão Desportiva e de Lazer pela Faculdade Drummond
Espetacular !!!!!
ResponderExcluirBelo texto, Ernesto. No mundial de 2000 você não citou o Al Nasser, time que nós mesmos batemos na segunda fase, para chegar à semi-final. Inclusive este foi o time que cedeu o campo para nós treinarmos em Dubai, como preparação para o mundial 2012. Que ironia!
ResponderExcluirQ texto! Parabéns Ernesto! Esse seu texto tinha q ser lido em todos os programas esportivos por mtos e mtos anos. Bjs e boas festas p/ vc.
ResponderExcluirSão também importantes os Rio-SP de 2002 e principalmente de 66 quando nasceu o nome Timão: Heitor; Jair Marinho, Ditão, Galhardo e Édison Cegonha; Dino Sani e Rivelino; Garrincha, Tales, Flávio e Gílson Porto. Técnico: Oswaldo Brandão.
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