sexta-feira, 1 de março de 2013

PARA O CORINTHIANS BRILHAR VAMOS NOS PINTAR DE FOSCO!





Que tal sair por aí recoberto de tinta fosca para que a entidade brilhe? Reflexão, justiça, direitos e deveres. Diante de inúmeras indagações e insinuações que tenho recebido como, acredito todos os corinthianos também estejam, em consequência dos acontecimentos envolvendo a nossa maior paixão: o Corinthians, sinto que é hora de externar alguns pensamentos.

Primeiro enfatizo o que a maioria já sabe – sou, sim, membro de Torcida Organizada (para onde partem quase todas as críticas). E é por aí que começo. Não somente sou associado como atualmente ocupo a presidência do Conselho Deliberativo do Grêmio Gaviões da Fiel Torcida. E nesse sentido digo que tenho plena consciência de que hoje, devido ao nosso gigantismo, algo parece ter se perdido ao longo dos anos. Sendo assim, reconheço e trabalho com o objetivo de melhorar. Temos cedido espaço e credibilidade tanto como Torcida Organizada como Escola de Samba. Para que voltemos a ser aquilo que nos propusemos no dia 1º de julho de 1969 é preciso uma reestruturação geral. Mas tudo isso não é diferente do que pode acontecer em qualquer instituição, seja ela de que ordem for. Mesmo reforçando que necessitamos de mudanças, afirmo que o espírito das pessoas com as quais convivo sob aquele teto não é nem de longe o mesmo que tantos querem nos atribuir, direcionando-nos à marginalidade.

Dito isso, falo agora de um aspecto humano, de uma fatalidade ou imprudência que ocorreu no nosso jogo de estreia pela Taça Libertadores desse ano. Não sou grande conhecedor das leis, mas digo que sinto na pele a dor que existe dos dois lados da moeda. Lamento tanto pelos familiares e conterrâneos do garoto Kevin como pelo associado corinthiano, que ratifico o que já foi tão explorado pela mídia: o menor não teve a intenção de promover nenhuma atrocidade.

Entretanto, o fato está aí. O que é feito no sentido de se construir algo novo? Qual a lição que fica; quais as mudanças que advirão a partir desse episódio? As decisões, os julgamentos prévios, a punição excessiva da CONMEBOL ao Corinthians... Não que o clube não tenha responsabilidade sobre sua torcida. Penso que sim. O clube e a torcida são um só corpo quando estão em campo. Isso não significa subserviência, muito menos alienação. A torcida tem que saber exatamente cumprir o seu papel, incentivando, comparecendo e respeitando as normas e os regulamentos. O clube deve ser o guia dessa relação, afinal, tem a estrutura profissional para os devidos entendimentos de como precisam se comportar os seus seguidores. Nesse aspecto, podemos até dizer que estivemos bem perto da excelência e basta ver o exemplo dado por todos na organização para o Mundial. Não tenho conhecimento de nenhum incidente de grandes proporções. Olha que foi gente de tudo quanto é lado, passando por inúmeras conexões, culturas e lugares diferentes. Os jogos, os deslocamentos... Até a FIFA enviou congratulações ao Corinthians.

Mas como tudo que envolve o nome do clube e de sua torcida, a exposição dos episódios por dias e horas seguidas toma conta da imprensa, das redes sociais e até dos bate-papos de botequim. Pessoas emitem opiniões – e isso é um direito – avaliam e condenam de forma unilateral. Recriminam e, às vezes, até parece que um erro deve ser precedido por outro para se fazer a almejada justiça.

Qualquer um que tenha o mínimo de consciência do que é uma família, tende a estar abalado com o evento. Eu estou. Refleti muito sobre isso. Triste pela morte. Mais triste ainda por conhecer o menor que cometeu a ação e ter a certeza de que é uma vida que se não tiver o apoio adequado também poderá se perder a partir de agora. Alguém que trabalha na área da psicologia humana certamente pode explicar melhor o que estou tentando dizer.

Nessa ponderação cheguei aos seguintes pensamentos: sugerir ao Corinthians, diante da elaboração de sua defesa – já negada pela CONMEBOL – que disponibilizasse os valores arrecadados com as bilheterias durante a competição para a construção de um projeto social na Bolívia, em Oruru, local onde ocorreu a infortúnio, ou em Cochabamba, cidade natal de Kevin. Isso mostraria a preocupação do clube de que realmente estava tentando evitar “erros” ainda mais graves, agora cometido pela CONMEBOL, que castigou mais de 30 mil pessoas (85 mil se somadas as vendas dos três jogos iniciais), que já haviam adquirido os ingressos. Acho que a minha opinião está clara. O Corinthians não brigaria apenas para a anulação do corretivo, mas estaria encabeçando um ato inédito na história do futebol. Um momento de dor geraria alento para aquele povo – e aqui não cabe nenhuma questão política ou econômica, haja vista que temos impasses mal resolvidos com a Bolívia, caso da “estatização” da Petrobras e da compra do Acre. O Corinthians, que tão tem prosperado no campo do marketing nos últimos anos, se tornaria um exemplo a ser copiado. E essa atitude não seria uma confissão de culpa, já que ninguém em sã consciência praticaria um ato como o protagonizado durante o jogo contra o San José.

O outro pensamento, depois de apurado e decidido pela família do menor brasileiro e pela diretoria dos Gaviões que ele se apresentaria espontaneamente às autoridades policiais, foi à preocupação daquilo que ainda está por vir na vida dele. Aí, através do nosso departamento social, temos contatado especialistas para orientá-lo de volta à sociedade. Confesso que ainda não vi nenhum órgão de imprensa abordar essa questão.

Com a punição determinada pela CONMEBOL e com o recurso do Corinthians negado, os holofotes, mais uma vez, focam nos homens de toga. Em tempos difíceis, os doutores é que assumem os papéis de craques e aparecem nas mini-coletivas improvisadas para darem as suas apreciações do que pode ou deve acontecer.

O Corinthians está proibido por 60 dias, ou enquanto rolar o processo, de contar com a presença do público em jogos aqui e no exterior que valham pela Libertadores. Na partida contra o Millonarios, no dia 27 de fevereiro, no Pacaembu, o castigo já estava valendo. Os torcedores que possuíam entrada se manifestaram. O clube publicou sua posição e pediu que esperassem a decisão final do julgamento do pedido de cancelamento da suspensão para a devolução dos valores pagos ou o direito de trocar por outros jogos. A CONMEBOL negou o recurso. As torcidas organizadas rapidamente se mobilizaram para que seus sócios não fossem até o local do jogo. As redes sociais e o próprio Corinthians instruíram que todos adotassem postura semelhante, atendendo inclusive, pedido das autoridades de segurança pública.

Tudo parecia alinhado, porém, um pequeno grupo de torcedores ligados a dirigentes da atual administração resolveu entrar com pedido de liminar respaldado no Código do Consumidor e no Estatuto do Torcedor, a fim de assegurar o direito de comparecer ao jogo (que deveria ocorrer com os portões fechados). A medida cautelar foi concedida – e aqui prefiro não entrar no mérito nem da decisão do juiz nem no que motivou os envolvidos a isso, já que como cidadãos eles possuem tal prerrogativa. Questiono apenas se essa era realmente a melhor maneira de se comportar para ajudar o clube a seguir na competição. Para ilustrar a situação, utilizo a frase que certa vez ouvi de Julio de Toledo, conselheiro vitalício dos Gaviões: “as vezes temos que nos pintar de fosco para que a entidade brilhe”. É nisso que me apego para não concordar com a atitude descrita acima. Mesmo com o Corinthians, através de seus advogados, tentando demovê-los da ideia de entrar no Pacaembu vazio, temendo uma consequência maior, o ato foi consumado. Não é hora de medir forças. Não é hora de se discutir o direito pleno de cada um, se o regulamento da competição é mais ou menos que as leis brasileiras... Claro que não é. Aí me permito fazer a seguinte observação: o garoto, torcedor apaixonado do Corinthians, cometeu uma imprudência que acarretou a punição ao clube e atingiu toda a torcida. O adolescente é de família simples, reside num bairro popular e não tem formação em consagrados estabelecimentos educacionais. Já os quatro adultos que foram ao estádio, ao que tudo indica, bem estabelecidos, alguns advogados, todos integrantes do movimento denominado Corinthianos Obsessivos (COs), fizeram prevalecer seus direitos enquanto consumidores. Informados sobre as implicações dessa atitude, ainda assim eles insistiram de que mais importante era manter seus direitos preservados. Respondam-me: há semelhança ou diferença entre a atitude do menor e desses que insistiram em ocupar as arquibancadas, fazendo-se mais importantes que o clube? Não sou advogado, pai de santo ou adivinho, mas tinha a impressão que a CONMEBOL suspenderia a proibição já para as próximas partidas. Agora acredito que vão manter como está até o final do processo. Espero que não venha nenhum agravante, pois se isso acontecer, ficará comprovado que esses torcedores prejudicaram o clube. Ressalto que o quarteto que democraticamente, embora com ar de intransigência, adentrou às numeradas do Pacaembu, local onde fica a maioria desses Corinthianos Obsessivos, nada acrescentou na “função” de torcedor. Eu estava lá na condição de radialista, e não ouvi um grito sequer. Apenas observei que um deles manuseava o celular incansavelmente. Outros sequer se deram ao luxo de retirar o paletó e ostentar o manto corinthiano que traziam por debaixo das vestimentas corporativas. E olha que não estava frio, nem garoava.

Tenho certeza que se fosse dada uma oportunidade ao rapaz de repensar sobre suas ações, ele certamente não puxaria a trava do sinalizador e assim evitaria a tragédia. Estranho é que os cidadãos esclarecidos, letrados, com acesso aos mais diversos meios, como a própria diretoria do clube, solicitados para não cometerem um ato que poderia prejudicar o clube, taparam os ouvidos.

No fim, o que vale é mesmo a frase do Julio: “as vezes temos que nos pintar de fosco para a entidade brilhar!”

Saudações Corinthianas!

Ernesto Teixeira – A voz da Fiel
Torcedor corinthiano; sócio, intérprete e compositor da Gaviões (8.005); sócio do Corinthians (305.216); suplente a conselheiro do Corinthians; idealizador do Comitê de Preservação da Memória Corinthiana (CPMC); colaborador da Rádio Coringão;
Formado em Gestão Desportiva e de Lazer pela Faculdade Drummond